Manejo Integrado de Pragas (MIP) e Manejo Varietal da Cana

Publicado em 25/08/2020 | Atualizado em 31/03/2021

O Manejo Integrado de Pragas (MIP) tem como preceito o uso de diversas formas de controle de maneira integrada.

Por ser uma cultura bianual, a cana-de-açúcar enfrenta problemas constantes com pragas devido ao monocultivo em grandes áreas.

Para controle das diversas pragas, existem métodos e táticas importantes para a implementação do MIP.

Mas um dos métodos é o manejo varietal da cana. E como esse manejo contribui no MIP?

Vamos entender os aspectos desses dois manejos em conjunto.

Manejo Integrado de Pragas (MIP)

O Manejo Integrado de Pragas (MIP) tem como principal objetivo fazer um controle correto das diversas pragas existentes nas culturas.

Na cultura da cana-de-açúcar não é diferente. Por isso, existem diversas táticas e métodos para controle das pragas de forma social, econômica e ambiental.

Podemos recordar as bases e pilares do MIP para melhor compreensão da importância de se realizar o manejo varietal na cultura.

As bases são ações que devem ser feitas antes de tomar qualquer decisão para controle das pragas.

Os pilares, são as diversas escolhas que você tem para efetivamente reduzir as populações dos organismos-praga de forma integrada.

Então, você pode ver na imagem abaixo, em destaque, que o controle varietal está entre os pilares e é importante que você dê atenção a esse método no momento do seu planejamento de safra.

O controle varietal está inserido no manejo varietal que pode contribuir para o MIP de maneira direta ou indireta.

De maneira direta seria com o uso de variedades resistentes às pragas e, de maneira indireta, com a diversificação das diferentes variedades numa mesma área.

Manejo varietal da cana-de-açúcar

Manejo varietal é, de forma simplificada, a escolha do material genético correto a ser plantado em cada local. Porém, não é somente isso, existem pontos importantes que você deve ficar atento.

A escolha da variedade vai além da produtividade (ton/ha) e também influencia na qualidade da cana produzida (ATR/ton).

As variedades são específicas para cada nicho em que se deve trabalhar. Por exemplo, alguns talhões podem ter um solo mais pobre em nutrientes e será necessário usar uma variedade com maior rusticidade.

Existe um grande número de variedades para as condições brasileiras e, grande parte disso, se dá pelos programas de melhoramento genético de cana-de-açúcar como a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), o CTC (Centro de Tecnologia Canavieira), o IAC (Instituto Agronômico de Campinas) e a Ridesa (Rede Interuniversitária para Desenvolvimento do Setor Sucroenergético).

O Programa Cana IAC, recomenda que uma mesma variedade não ocupe mais do que 15% do valor total da área de produção da cana-de-açúcar.

Segundo o pesquisador Marcos Landell, essa margem é importante para garantir a segurança biológica da variedade e evitar que possíveis surtos de pragas e doenças atinjam toda a produção.

Por essa razão, um dos pontos-chave para um bom manejo varietal é a diversificação de variedades de cana-de-açúcar em uma mesma área.

O último censo de variedades do IAC demonstrou que os canaviais brasileiros estão velhos, por falta de renovação e implementação de novas variedades.

Esse envelhecimento levou à uma queda, nas últimas dez safras, de 27 toneladas por hectare comparando a média dos dois primeiros cortes com os demais.

Além disso, as variedades mais modernas são adaptadas ao plantio mecanizado, têm alta produtividade, menores falhas e têm resistência à pragas e doenças.

Fonte: Socicana. Diferentes variedades de cana-de-açúcar.

Manejo varietal e controle de pragas

Nos últimos anos, o cenário da produção de cana-de-açúcar vem mudando com o aumento do corte e plantio mecanizados, diferentes regiões edafoclimáticas, extinção da queima e incidência de pragas e doenças.

Em consequência disso, são exigidas variedades que, além de boa produtividade, tenham bom brotamento sobre a palha, resistam à condições adversas e ao ataque de pragas.

Em 2017, a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) liberou a variedade CTC20BT e, em 2018, a variedade CTC9001BT, ambas desenvolvidas pelo CTC.

Essas variedades são resistentes à broca-da-cana, Diatraea saccharalis, que é praga-chave da cultura, está presente em 100% das áreas de cultivo do Brasil e traz perdas estimadas em R$ 5 bilhões por ano.

Após a liberação, ainda existe um processo que dura cerca de três anos para que as variedades sejam multiplicadas com a produção de mudas em escala comercial.

Fonte: Bula Técnica CTC9001BT. Informações sobre a variedade CTC9001BT.

E também, recentemente, a Embrapa Agroenergia (Brasília, DF), em parceria com a startup PangeiaBiotech, da Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii) e com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), desenvolveu uma variedade resistente à broca-da-cana e ao glifosato.

A variedade, chamada BtRR, está em fase final dos testes de campo. Para a modificação genética da cana, foram selecionados genes com liberdade de exploração (em inglês, Freedom to Operate – FTO) que foi certificado em 2019 pela empresa ClarkeModet & Co.

Segundo o pesquisador da Embrapa, Hugo Molinari, essa tecnologia tem um grande diferencial que é a expressão de duas proteínas bioinseticidas em toda a extensão da planta, tóxicas para insetos suscetíveis, porém inócuas para outros organismos.

Dois modos de ação que aumentam a vida útil da tecnologia.

Foto: Canal Bioenergia

Os benefícios diretos ao utilizar as tecnologias dessas variedades resistentes à broca-da-cana são inúmeras, dentre elas podemos citar a economia no custo de aplicação de inseticidas e herbicidas, maior eficiência de controle e menor número de operações agrícolas.

Por fim, o manejo varietal dentro do MIP tem muito o que contribuir na cultura da cana-de-açúcar.